terça-feira, dezembro 18, 2007

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"A boca só fala do que o coração está cheio"
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Mas nem sempre quando se cala, o coração está vazio, ou manso, em paz. Se eu disse nem sempre, falei de esperança. Muito bom ano pra nós, muito bom ano pra recomerçarmos, e viva Carlos Drummond de Andrade!

“Recomeçar”


Não importa onde você parou... em que momento da vida você cansou...o que importa é que sempre é possível e necessário "Recomeçar". Recomeçar é dar uma nova chance a si mesmo...é renovar as esperanças na vida e o mais importante... acreditar em você de novo. Sofreu muito nesse período? Foi aprendizado...

Chorou muito? Foi limpeza da alma... Ficou com raiva das pessoas? Foi para perdoá-las um dia... Sentiu-se só por diversas vezes? É porque fechaste a porta até para os anjos...

Acreditou que tudo estava perdido? Era o início da tua melhora... Pois é...agora é hora de reiniciar...de pensar na luz...de encontrar prazer nas coisas simples de novo. Que tal um corte de cabelo arrojado... diferente? Roupas novas? Um novo curso... ou qualquer outra coisa. Olha quanto desafio...quanta coisa nova nesse mundo te esperando.

Ta se sentindo sozinho? besteira... tem tanta gente que você afastou com o seu "período de isolamento"...tem tanta gente esperando apenas um sorriso teu para" chegar" perto de você. Quando nos trancamos na tristeza... ficamos horríveis... o mau humor vai comendo nosso fígado...até a boca fica amarga. Recomeçar...

Hoje é um bom dia para começar novos desafios. Onde você quer chegar? Vá alto... sonhe alto... queira o melhor do melhor... se desejarmos fortemente o melhor e principalmente lutarmos pelo melhor... Só o melhor vai se instalar na nossa vida.

E é hoje o dia da faxina mental... joga fora tudo que te prende ao passado...ao mundinho de coisas tristes... fotos... peças de roupa, bilhetes de viagens... e toda aquela tranqueira que guardamos...jogue tudo fora... mas principalmente...esvazie seu coração...e fique pronto pra VIDA!

"Porque eu sou do tamanho daquilo que sinto, que vejo e que faço, não do tamanho que os outros me enxergam".


Carlos Drummond de Andrade

sexta-feira, setembro 28, 2007

Nua e Crua

Ela disse:

_ Quero me despir de toda essa fragilidade: refúgio confortável que vem me distanciando de mim mesma, que me trai e me derrama em qualquer lugar sem se importar. E o mundo torna-se olhos curiosos que me fitam, hesitam e se fecham para não se envolver. É perigoso compadecer-se, envolve crise existencial e perda de tempo. E é o que clama essa fragilidade inútil: tenham pena de mim. Eu vou rasgar tal fragilidade com crueldade. Nua e crua vou descobrir quem sou. Doce ilusão.
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Doce ilusão?

sexta-feira, setembro 14, 2007

Amacenhe

Uns pássaros desafinados pensam que cantam
As nuvens espaçadas parecem correr para o lado de lá
E eu existo aqui na frente do computador
Eu resisto acordada desde a madrugada
Absorvendo a luz do monitor
cravada na cadeira
Querendo ser nuvem fluida
arrastada sem parar
reclamando dos pássaros
no decurso do passear

Eu sou cheiros bons e ruins que se mesclam
e me deixam inconfundível
Aqui
Me torno insuportável
Pretendo ser indistingüível

Ainda não sei voar de perto
Nem cheirar menos
Sequer esqueçer
E o poema sente uma falta enorme
das coisas que eu não consigo esquecer
nem escrever

sábado, agosto 25, 2007

Um significante em busca de um significado

Suspensos. É o que somos. Seres com e entre nomes pairando num Universo com prentensão singular. Seres únicos e em extinção por não haver outra de mim, nem de você. Ainda assim, me sinto um clone da linguagem que uso e não criei. Linguagem que mantém meus pensamentos vivos, estes pensamentos entre aspas porque não são meus. Devo dar vivas à linguaguem que me dá sentido no mundo, mas o que eu sinto não tem nome. É inclompleto, é carente, é grandioso, presente e ausente...tem mil adjetivos, mas não tem nome. Nem quem invente. Por isso nesse escrito vou me indignar, e nem me preocupar se é entendível. Se eu não, porque então? E deixo me guiar por uma falta de freios do que é dizível enquanto ouço a sirene dos bombeiros lá fora, a vir apagr um incêndio na vizinhaça, onde pessoas estão preocupadas com coisas reais que queimam. Minha incapacidade expressiva me queima. Quem diz que eu também não morro como um papel em chamas? E na Tv uma comédia que só fala em sexo, e é boba porque não é Freud falando em escapar da dor e buscar o prazer. Mas para o cristianismo, não é através da dor terrena que chegaremos ao supremo prazer de estar no paraíso? Eu me perco nos conceitos,e só me lembro que pensar enlouquece, pense nisso. Sempre entre aspas.

quinta-feira, agosto 09, 2007

É assim que eu digo "muito obrigada".











Se eu pudesse eu fazia aniversário todo dia. Já não me importo mais se chamam isso de "ficar velha", com todas as manifestações de carinho recebidas me sinto renovar. Estou é mais moça. :)

Quero eu ir vivendo pra retribuir essas coisas do amor.

quarta-feira, agosto 01, 2007

Das implicações dos atos e das palavras










A vida é mesmo uma afirmação? Um seqüência infinita de "sins" que vão nos permitindo fazer as coisas? O não é uma barreira imposta pelas pessoas, e não pela vida, segundo um amigo meu. Isso pode ser ótimo em certas situações, como quando queremos fazer uma exposição fotográfica e somos recebidos sucessivamente de forma positiva pelos parceiros procurados. " Aos extremos" está aí, e teve locação, patrocínio, comes e bebes para o lançamento, divulgação e boa aceitação. E isso me deixa, sim, muito feliz.

Mas será sempre tão simples assim lidar com os "sins" da vida? Mesmo que o sim esteja permeando o mundo, o mundo é habitado por pessoas, e estas são seres de escolhas por vezes angustiantes. É, consideremos as escolhas. Não são elas as afirmações das negações? Não são uma forma de dizer um sim negando a tudo o que ficou de fora? De que adianta um alfabeto me sorrindo com "sins", se, caso eu escolha o amoroso "a" , deixo de fora o formoso "f" e o magnífico "m"?

Sim , eu gosto que me aceitem; mas as vezes seria mais generoso me oferecer um nobre não. Porque, deslumbrada como sou, vivo me vendo em labirintos e não há aula de psicologia que me ajude a compreender as dissonâncias cognitivas como situações passageiras. E, se por acaso, digo "sins" demais tentando seguir a natureza que me guia; depois cai sobre mim uma culpa cristã me fazendo sentir pior do que Hitler deveria ter se sentindo diante do holocausto judeu.

Lógico que era evitável, mas no momento não quis dizer não porque não havia no mundo nada mais puro. Se me comove e me emociona, por que deixaria de dançar a música? Mas existe muita gente e consciência pra me chamar inconseqüente. Então o amor que deveria ser, não é todo positividade. Então o amor que em essência é límpido sim, é maculado e machucado com não muito mais do que com qualquer traição.


...é como ser flor tirada do bueiro...

sexta-feira, julho 13, 2007

De madrugada










Já quase amanhece e eu não durmo. Eu durmo na hora errada. Durmo na hora em que assisto um filme do qual estou gostando. Tem gente me esperando, mas hoje houve desentendimento seguido de incompreenção minha. E me resta um vontade de voltar, só que o orgulho entalado em minha garganta não desce nem com água. Avalie com saliva. Cuspe. Tudo que é líquido se reverte em água nos olhos, e só quer isso de mim. Um choro. Mas hoje não estou de dar o que querem; então olho pro meu reflexo na tela como pra um covarde e o transformo em outra coisa. Que não chora por fora.


Ah, mas a lógica do orgulho é estranha: Eu quero algo. Você não quer me dá. Eu me aborreço. Você se arrepende. Você _ agora_quer me dar. Eu não quero mais.


Todos perdem...e eu aprendi com alguém que tem a metade do meu tempo e um sangue similar. Por convenção, irmão.

terça-feira, julho 10, 2007

1, 2 , 3 versos.

Se a palavra é comério

comércio
exército
do capital

Se a palavra é palavra

lava a palavra
antes de levá-la
da boca aos ouvidos

Se a palavra é seios

Meus seios são
olhos cheios de tesão
acima do coração


... e eu adoro essa brincadeira. :)

sábado, junho 23, 2007

Outra forma de ser

Não é de hoje essa vontade de encarnar na pele alheia. Nada de espiritismo nem experiências do gênero, mas quero poder não ser eu às vezes. Como ele sente, como você lê, como ela vê isso tudo que nos cercas? São perguntas que eu só posso fazer e não responder. Por mais que seja mil em uma, por mais que exarcebe, que mude, que insita nisso, que desista daquila, que reveja escolhas, que pinte o cabelo ou atue...sou ainda eu em meio a minhas diferenças "ginianas" fazendo isso. Não é como ser Jonh Malkovich.

quarta-feira, junho 13, 2007

Verso Livre

suspiro de amor
breve em brasa
de rasa profundidade

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dizem por aí
que não amadureço
pra essa minha idade

mas quem se importa?
eu que sei quem serei
quando abrir a porta

negações serão negadas
quando minha secreta profecia
ousar-se materializada

quinta-feira, junho 07, 2007

Presentes











Os amores que tenho em mim são pra vocês; e são tão imensamente coloridos que só me resta subtrair aqui as cores, para que possam imaginá-los em suas mais pontentes e mágicas formas. Não há beleza maior em outros olhos, que não nesses que preenchem os meus dias.

quinta-feira, maio 24, 2007

Recortes do Real




Ando vendo tudo aos pedaços, diante da impossibilidade de capturar o todo...

Nem sempre basta.

terça-feira, maio 15, 2007

Vem de dentro...

É que às vezes eu queria ser invisível pra poder observar as pessoas sem constrangê-las, ou sequer modificar-lhes a expressão devido a minha presença. E outras vezes eu queria existir mais, existir tanto, me impor sobre outros justamente pra saber que tipo de reação provoco. E contentar-me baixinho, lá dentro.

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Nem numa gota de tempo escorre
Quando mais preciso desse choro
Mas, só por paradoxo,
Não pára de jorrar quando deve congelar
Naquele exato momento que estou de bem comigo

quinta-feira, maio 10, 2007

Historinha da Borboleta

Era uma vez uma lagartinha da floresta que vivia sonhando com o dia em que viraria borboleta. Tudo que ela queria era poder voar e ver de cima toda a beleza do mundo. Chegou o dia de ir para o casulo, e ela foi com muito prazer, pro seu momento de transformação. Passaram-se uns dias, e ela lá dentro, esperando, imaginando a linda e voadora borboleta que seria. Até que chegou a hora de sair; e ela, ansiosa, saiu. Só que ela tava tão aperreada que acabou se atrapalhando e deixando uma das asinhas presas no casulo. Quando ela tentou puxar... rasgou a asa...Ai Meu Deus!Como ficou triste a nossa borboletinha! Ela tentou até voar, mas com uma só asa era impossível. Então ela começou a rastejar, como fazia quando ainda era lagarta. Seu sonho era que tinha ido pro espaço. Mas um belo dia, um passarinho, ao ver aquela linda borboleta andando no chão, acha estranho e se aproxima. Quando ele ta bem pertinho, percebe que ela ta tão triste, tão triste, tão trisque que até chora. E pergunta: “O que houve linda borboleta, porque você chora?” “Porque minha asa ta quebrada, não consigo voar...snif” “ Ah, então é por isso que você está aí no chão?! Olhe, pois trate de se alegrar, ô linda borboleta, que eu tenho a solução pro seu caso!”. O passarinho colocou a borboleta em uma de suas asas e levou-a até a coruja, o bicho mais sábio da floresta. A coruja, depois de ouvir a história, falou pra borboletinha que ela deveria ter sido mais cuidadosa; mas que ia sim ajudá-la, porque todo mundo merece uma segunda chance. Preparou um remedinho de ervas e passou bem no local onde a asa da borboleta tinha se partido. Imediatamente, a asinha ferida se recompôs. Ela mal podia acreditar! Ia voar!!! Bom, antes de sair pelos céus, a borboletinha agradeceu ao passarinho e à coruja pelo enorme bem que eles tinham lhe feito. Depois, de olhos fechados, saltou do galho alto em que estavam e só os abriu quando sentiu que estava pairando no céu, vendo de cima toda a beleza do mundo!

segunda-feira, abril 23, 2007

Haikais





Tentando fazer o primeiro...
Eu vou encantar
milhares de corações
Quando eu ali passar

No idea
Me dá uma idéia
Pra eu escrever pra você
Te fazer platéia

Minha presa
Não, meu bem, não saia
Se fugir vou te pegar
Te fazer cobaia

Silêncio :D
Ausência de Som
Eu penetro no vazio
Me disseram que é bom

Francês
Comment tu t'apelle?
Je veux connaître ton nom
Ta existence es belle...

Mãe
Eu te sinto forte
mesmo que tu estejas morta
Ainda és meu norte

Rárárá
Vou dizer pro pai
que agora mesmo aprendi
A fazer haikai

terça-feira, abril 17, 2007

Diário de Três - Curta Metragem










Parte 1
http://www.youtube.com/watch?v=UC3MD6zqWV0

Parte 2
http://www.youtube.com/watch?v=Jd9T1fDYKls


Aconteceu assim...

Tudo começou quando eu cheguei pra Andrea e disse que estava caçando idéias para produzir um filme pro Cineceará, então, ela , por favor, se tivesse uma... .... .... No dia seguinte ela me chegou com uma. Uma conversa de fazer um fime sobre três amigas que escreviam diário e... E sentamos pra definir as reticências, pra escrever o roteiro, pra planejar a parte operacional, enfim. Tivemos que bater perna, comprar coisas, arranjar outras. Contar com os amigos foi fundamental. Foi indispensável que eles ouvissem nosso clamor, acatassem nosso aperreio, suportassem com humor nosso amadorismo e empolgação infantil de produzir o primeiro filme. Mais uma vez e para sempre, agradecimentos a todos. No mais é dizer que o roteiro é uma coisa e o filme é outra que tem uma rara semelhança; o roteiro foi uma linha inspiradora de sentido, porque na nossa imaginação tudo é bem mais iluminado e possível do que quando nos deparamos com as limitações técnicas dos equipamentos e softwares que tinhamos disponíveis. Mas, apesar de trabalhoso, é muito mais gostoso fazer um filme; tanto quanto é bom realizar coisas nas quais se mobilizam diversas pessoas de diferentes vértices em torno de um objetivo comum, e de graça. Um suspiro satisfeito.

quinta-feira, abril 12, 2007

Arrumando as coisas

Ontem, antes de dormir, sentei na cama com minhas lembranças. Minhas lembranças cheias de poeira, resistindo ao tempo. Minhas lembranças que em arrumação, separei do lado das que eu não queria jogar fora. Ontem me sentei para ser só delas, e sabia que iria chorar...

Reli bilhetes de paqueras que me fizeram rir e cartas de amores passados eternos que me encheram os olhos d´água. Mexeram mais comigo do que quando as recebi, fazem pensar na efemeridade das mais belas coisas. Por exemplo, o amor. Será o amor uma rosa, que é belo enquanto dura e cheira mais forte quando murcha? “As flores tem cheiro de morte e a dor vai fechar esses cortes”.

Encontrei uma receita de óculos de há menos de um ano atrás, e já faz tempo que acho que tenho que aumentar tanto este grau. Estou ficando cega, sim, estou ficando ceguinha. E não é bom ver embaçado o rosto de quem acena pra você na rua.

Uma redação feita em conjunto, em exercício criativo, por amigas da faculdade que seguiram seu rumo; e no parágrafo de cada uma sobre uma história boba está implícito explicitamente seu modo de ser...

Ô Nostalgia! E o que vejo agora são os “santinhos; do vizinho que me paquerou, o da mãe da minha amiga Giovana...como eu sinto como ela. Sinto?Ah, mas há sim uma irmandade nesta orfandade...

Uma carta do meu segundo irmão, não assinada, pra nossa mãe depois de morta. Sim, uma surpresa, uma surpresa! Ele, sempre tão calado, tão alheio...ele sentiu, ele é bom. Ora, ora... “um dia verei você de novo mãe, aí nesse dia vou lhe abraçar, beijar, brincar até a eternidade. Te amo!” . Eu também mãe, eu também.

Eu sou um grito de socorro...

Não, minha mente não pode parar,

Se se aquieta eu me surdo

Porque eu sou um grito de socorro

Eu fui uma adolescente de 15 anos num convite de aniversário, de boné azul pra trás, jeans e tênis. Me achava tão bonita, tão rebelde! O meu nariz era do mesmo tamanho...o que se fez de mim? Uma dedicat´ria tão maravilhosamente linda eu leio que me fizeram, e na minha festa eu fiquei encabulada. Nove anos atrás eu queria fugir, por pensar estar “pagando mico”. Porque só é depois que estou vendo a beleza de tudo...


Pare de me amar só quando estou dormindo e me olhe de uma vez nos olhos à luz do mundo. O som da TV é alto e me incomoda.


E as fotografias, as fotografias, as fotografias...Eu preguei mais lembranças na porta do guarda-roupa.

domingo, abril 08, 2007

sábado, abril 07, 2007

Meu sonho de hoje

No meu sonho de hoje, as pessoas estavam presas em espelhos que estavam anexados a uma parede negra. Os espelhos eram retângulos que não lhes abarcava o corpo todo, de modo que eu, ou via as pernas, ou as mãos, ou as costas; mas nunca o rosto de quem estava do lado de lá. Sim, era gente minha, conhecida, e , da parte que se mostrava, eu via que continuavam a exercer suas atividades corriqueiras. Não sabiam que estavam presas. O reflexo das pernas da Cecília mostrava que ela continuava a correr tentando emagrecer. As costas engomadas do vizinho seguiam para o trabalho em busca de dignidade e dinheiro. Óbvio, ninguém me ouvia, por mais que eu quisesse, por mais que eu gritasse. Até porque espelho não escuta e até nos sonhos há que haver um mínimo de lógica. Mas a parte mais inquietante foi quando, em meio às paredes escuras e espelhadas, surgiu você real. Foi quase um alívio, que não se concretizou porque quando tentei falar contigo você virou “de cera”. E quem mais, porventura, surgia no meu sonho; se eu olhasse com ânsia comunicativa, virava pedra. Demorou pra eu acordar, pra eu escapar...como se eu, que era e sou sonha do sonho meu, ficasse nele enclausurada. Como se ele fosse meu espelho. Ainda bem que não acordei “de pedra”.

Acordei pedindo pra que você não me deixasse, não me deixasse mais dormir. E você só me diz que foi só um sonho. Eu ofegava e você reduz minha irrealidade a uma questão de eu saber controla-la ou não. Eu te peço que me ensine; e a gente combina sonhar o mesmo sonho e controla-lo da mesma forma, na mesma noite, na mesma cama, depois daquela hora. E a gente vai sonhar junto, só pra ver o que acontece.

sexta-feira, abril 06, 2007

Você me olha sério?

Quando você me olha sério, fico sem jeito. Quem me olha sério quer me revelar, quer ir além do que eu quero mostrar. Eu sorrio, faço uma careta, tento distrair e você continua a me olhar sério bem dentro do olho. Não adianta outra expressão, roupa, maquiagem, brilho, contraste, máscara, disfarce. Você me olha sério e me entra.Você me olha sério, já não permite que eu baixe a cabeça, e vai buscar a Gina. Perpassar seus muros, destruir suas defesas. Vai desnudá-la por debaixo dos panos, atrás das cortinas, vai descê-la do salto. Olha sério e a derruba do palco. Sim, eu machuco, eu mostro a minha dor pra quem consegue me olhar sério. Eu mesma me descubro se você mergulha no meu abismo, se se lança sem medo no buraco negro que sou... e quando voltamos já não somos mais os mesmos, se você me olha sério. Agora é seu olhar que me domina, porque é você que me olha sério. Um dia eu vou te olhar sério pra você ver que eu sou só um espelho. Pense bem, se pensar em me olhar sério...

quarta-feira, abril 04, 2007

Desafios dos 3 versos *

Fim trágico...
a garrafa quebrada de raiva
mas seu adeus me corta
muito mais que os cacos

Autotortura
pensar,de brincadeira, você com outra
faz de mim atriz que não sou
de tanto que eu sinto e choro

Amarga Escolha
Dez amores eu quis
mas só a um
dei meu amor

Amálgama
Amálgama
Prata da tua boca
Que eu gosto de provar

Pressão
partículas comprimidas por entre paredes sólidas
vozes que te encostam na parede
você, partícula.

Esperança
Esperança herança humana
Ser outro bicho
me deixaria Desesperada


*Quem quiser brincar de poeta também, entra na Comunidade "Em 3 versos todo um sentimento", no orkut!
Endereço http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=28312853



domingo, abril 01, 2007

Umbigo


Vital
Vira
Cicatriz

Enfim!

Publicaram um artigo que escrevi sobre os blogs pró-anorexia, aqui:

http://intermidias.blogspot.com/2007/03/blogs-pr-anorexia.html

Viva, viva viva!!!

A Reportagem sobre o assunto saiu ano passado aqui( com uma foto muito mais ou menos, blagh!):

http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=372374


Bom, tem outro sobre a análise das mulheres nas capas da revista Veja, aqui:

http://www.comunicacaoempresarial.com.br/rev_artigos4GinaeRegina.htm


Tou tão felizzzzzzzzzzzzzzz!!!!!!!!

quarta-feira, março 28, 2007

Reprise

Ando fazendo releituras de mim mesma, literalmente. Costumo ler meus escritos do ano passado, e do que veio antes dele. Funciona assim, se hoje é 28 de março, o que eu estava pensando em 28
de março dos dois anos anteriores? Acabei de descobrir ( e é mesmo uma descoberta), que perdi o som do carro exatamente a um ano, e eu estava tentando resolver a todo custo ( $$$-mesmo) um problema que eu havia gerado. Isso é positivo. Mas eu não soube chegar pro meu pai e assumir meu erro antes de tentar resolver, adiei um diálogo por medo. Isso é negativo. O escrito de 2005 é mais enigmático, diz exatamente isso: "De volta à vida real. Bem vindos." ( Gina cita Gina, que horror!)...acho que pra ter escrito isto eu devia estar voltando de algum dos meus períodos de devaneio.

Engraçado, pra mim é muito engraçado...a conclusão que chego é que, sinceramento, tenho melhorado na vida, e piorado na escrita.

domingo, março 25, 2007

Cinema Hoje...o espetáculo continua?

Atualmente, a internet, os equipamentos digitais e a facilidade de acesso aos filmes e programas de edição causam uma crise de sentido no que seria o cinema. Cinema é um filme produzido em película? Ou vale se for digital transmitido por satélite? Cinema é um filme que experimento numa sala comercial escura comendo pipoca junto com desconhecidos? Cinema é o filme que ainda nem estreou nas salas, mas que eu já “baixei” da internet e vi? É o DVD pirata ou não que eu comprei e que me permite desconstruir o filme, ver o segredos de produção, desmagificar as mágicas? É o filme que eu produzi com minha câmera na mão a partir de uma idéia que tive com uns amigos e joguei lá no youtube ou inscrevi num festival? Onde antes existia uma certeza e uma convenção, um costume e uma paixão, agora existem possibilidades e dúvidas de definição, pois essa afetação das imagens, das narrativas, da metalinguagem filma, gera uma plasticidade diferente, uma interatividade outra. Para mim, cinema é uma criação filmíca que permite estabelecer contato, relação com o(s) outro(s). Como arte, há o criador, que tão logo se torna espectador de sua obra, e os espectadores que recebem este sentimento, esta idéia, que são afetados por ela. Portanto, a meu ver, o cinema está dentro de cada uma das questões acima. Sim, há as questões comerciais, modificações na forma de consumo, e a necessidade de adaptação ás novidades que geram transformações e que surgem a toda hora, mas a essência é essa. Apesar da quebra paradigmática, melhor dizendo, incrementado e desafiado por esta quebra, o espetáculo continua.

* postagem estranha? Explica-se: é parte de um resumo para a Especialização e amanhã tenho uma prova de Bolsista sbre o assunto...

sexta-feira, março 09, 2007

Quase lá*

quase é ao mesmo tempo tanto e tão pouco, mas espero q o quase me impulsione pro adiante. Sim...com um quase na cara eu preciso respirar muito.


*sim, isto é um desabafo por ter sido reprovada no concurso da Sefaz. Último colocado:199
Gina Emanuela:198. É muito quase pro meu gosto.

sábado, março 03, 2007

Entrelinhas

Ela disse:

_ Não, eu não quero que você goste de mim porque eu sou a única mulher que você tem. Quero que você sinta que pode ter outras, todas a mulheres, e mesmo assim esteja comigo porque escolheu; porque me quis e eu te quis e continuamos nos querendo.

_ Mas é exatamente isso!

_ Então, porque eu não sinto?

Ele deu um suspiro indignado acompanhando de um sorriso, ao mesmo tempo em que levantava os ombros e balançava a cabeça. E a olhou tentando compreender. Não sabia por que ela não sentia. Não sabia por que tinha dias em que ela estava impossivelmente carente, insegura, cheia de questões, tentando encaixar o amor deles em alguma teoria. Ele a amava, ah, como amava. E a olhou mais nos olhos desamparados que já continham o brilho de uma lágrima. Teve o ímpeto de tomá-la nos braços, e carinhá-la tanto, e beijá-la tanto; que qualquer fantasma seu não suportasse tanto afeto e fosse embora pra nunca mais. Mas não fez isso. Não, pois ele queria que ela se tornasse uma forte. Uma mulher forte e segura. Tinha como objetivo tirar dela o que a diminuía, principalmente quando era fruto de uma ilusão maléfica e desnecessária. Jamais negaria apoio e perdões se ela tivesse razão. Porém naquela hora não, por mais que olhinhos dela pedissem.

_ Você não se importa nem quando eu choro.

_ Mas você não tem porque chorar agora, ô meu Deus! Olha..._ disse ele enquanto levantava de leve seu queixo_ Porque você está aqui agora?

_ Porque eu te amo.

_Certo. E porque eu estou?

_Porque você me ama.

_Certo. Porque é assim que tem que ser. Porque temos muita sorte de amarmos um ao outro e podermos estar juntos. Não entendo porque você diz que não sente se você sabe!

Ela engoliu cuspe que tinha na boca, mordeu os lábios e o encarou. Não tinha coragem de lhe dizer que tudo que ela queria agora era que ele a abraçasse, que fizesse carinhos e a beijasse até não ser mais preciso falar coisa alguma, até o amor que ela sabia que ele sentia penetrasse sua pele como calor, um calor que conforta. Considerava um pedido desses uma humilhação, uma súplica. Se ela o fizesse ele a acharia uma fraca, e ela não era uma mulher fraca, só não tava num dia muito bom. Continuou a olhá-lo tentando transmitir sua ânsia através do olhar. Mal sabia que ele já havia percebido e preferido passar por insensível para fazê-la crescer.

_ Você me olha como quem guarda um segredo, menina.

Ela sorriu dando-se conta que tinha um eu te amo com aprendizado de brinde vindo daquela frase. Só então ele a abraçou, a carinhou e etc, etc, etc.

quinta-feira, março 01, 2007

retalhos de um acesso de raiva na madrugada

Não consigo dormir. Já tentei, mas não consigo. Minha cabeça ainda dói um pouco, apesar das lágrimas já terem cessado. Será que eu espero demais dos outros, de tudo, do mundo? É possível que eu seja tão carente assim? Ou não estou mesmo no lugar certo, acompanhada das pessoas certas, recebendo tudo o que mereço? Sim. Eu quero mais, mais do que o que tenho e nem acho que queira tanto assim. Porque eu me dou. E lá vem mais uma coisa que de encontro ao que já aprendi...não, não devemos no doar tanto esperando retribuição. Mas eu me dou. E eu espero. E acho que tenho razão, ainda por cima. Não acho que faço esforços hercúleos, trato as pessoas gosto como elas merecem, como eu gostaria de ser tratada. Mas vem patada. Ah, vá s.....!

Se o meu projeto de mestrado fosse sobre isso eu escreveria mais e melhor. Mas é ele o que eu tenho que fazer e isso o que tenho que conter. Mas também soube que faz mal engolir raiva. Porque que a minha cabeça não explode de uma vez por todas? Porque sou tão boazinha e digo que tá tudo bem quando não tá? Não tá. E acabo destratando o pober do meu irmãozinho que só quer ajuda na tarefa. E o rancor sai todo espalhado pro lado errado. A conseqüência é que fico assim, uma salada de raiva, pena e culpa de mim.

Preciso fabricar meu próprio antídoto. É, preciso, mesmo que eu não entenda direito a finalidade da vida. Mesmo que eu não aceite o fato do meu tio está lá naquela cama de hospital. Meu tio pareceu tão debilitado, pareceu tanto com minha mãe...e eu não consigo suportar sem choro nas calçadas uma visão assim. uma lembrança dessas. Então a pessoa envelhece. Ou adoeçe. E outros estão no Banco por pedaços d epapel com valor. ali no Bom de Vera cheios de gula. E outros rezam ali na igreja , Meu Deus!, porque eles também não entendem nada e precisam de uma resposta pra seguir em frente.

Eu também preciso. tanto.

domingo, fevereiro 25, 2007

Conto: Mulher-esqueleto e a solidão

"Era uma vez uma mulher. Ela havia feito alguma coisa que seu pai desaprovara. Nem ela mesma sabia do que se tratava e ele a lançara impiedosamente no mar. Os peixes devoraram sua carne e arrancaram seus olhos e ela ficou lá pobre esqueleto a rolar com as correntes. Um dia um pescador solitário veio pescar naquela baía. Seu anzol foi descendo e descendo e ele encontrou algo. Deve ser um grande peixe, ele pensou. De fato era tão grande o peso daquilo que ele pensava ser um peixe que quando mais ele lutava mais aquilo se enredava na linha da rede que ele lançara ao mar. De repente ele se voltou para olhar a rede e deparou-se com aquele esqueleto, horrível. Ele a soltou do barco sem reparar que estava presa e remou, remou, desesperadamente para terra. Ao descer do barco ele verificou que aquela terrível coisa o acompanhara. Ele corria para casa e o esqueleto vinha atrás dele, ele gritava e ela o acompanhava, o tempo todo ali, enredada na vara de pescar. Finalmente ele chegou a seu iglu e atirou-se no chão, sentindo-se finalmente seguro. Então, ele acendeu sua lamparina de óleo de baleia e ela estava ali, jogada, amontoada num canto, um calcanhar sobre um ombro, um joelho preso nas costelas. Ele teve novamente medo, mas algo lhe aconteceu. Talvez fosse a expressão do esqueleto, se é que podem ter expressão. Talvez fosse a solidão em seu peito. O certo é que ele teve compaixão daquele ser e lentamente começou a desenredá-la. E cantava, cantava. Depois ele a cobriu com ternura. E ela pensava o tempo todo que queria ficar ali, aquecida, cuidada como jamais o fora. O homem teve sono e dormiu e enquanto dormia uma lágrima correu de seus olhos, talvez provocada pela compaixão, talvez provocada pelo coração finalmente pleno. A mulher-esqueleto viu a lágrima e aproximou-se, e bebeu a lágrima e quanto mais bebia, mais lágrimas saíam. Ela saciou sua sede de anos. Ela estendeu a mão e retirou de dentro do peito do homem seu coração. Ela começou a batucar nele pedindo por carne. Tum, Tum, carne, carne ela cantava em voz alta. E seu corpo miraculosamente se enchia de carne. Quando finalmente recobrou seu corpo ela devolveu o tambor ao homem e deitou-se a seu lado. Pela manhã eles acordaram juntos e abraçados e não separaram mais."

Este é um conto do povo Inuit - tribo do Canadá - de rara beleza que fala do maravilhoso sentimento da compaixão, compaixão que pode preencher o coração do pescador solitário e devolver a vida a uma mulher abandonada pelo pai à própria sorte. Fala da capacidade de olhar para elementos estranhos vindos do inconsciente - das profundezas do mar - através do amor. Amor pelo que não é tão bonito em nós, amor pelo que não é tão bonito nos outros.

Associamos o conto aos florais do grupo da solidão para pessoas que ficam isoladas: Impatiens, Heather e Water Violet que nos falam, em desarmonia, da incapacidade de olharmos para os outros com olhos regidos pelo coração. Em Impatiens porque estamos preocupados demais com a lerdeza do outro, temos pressa, muita pressa, não teríamos paciência para desenredar o pobre esqueleto! Em Heather porque queremos apenas falar de nós, porque não queremos ficar sozinhos, porque temos um buraco dentro de nós mesmos que não sabemos preencher, porque estaríamos preocupados com nosso próprio sofrimento e jamais com a pobre mulher-esqueleto! Em Water Violet porque não sabemos nos doar e nos distanciamos das pessoas, jamais compartilharíamos de nosso coração e de nossas lágrimas com outro ser! Em harmonia, porém, encontraríamos alguém com quem compartilhar nossa vida, uma mulher-amante, companheira para sempre. Encontraríamos alguém para que, batendo em cadência, as mínimas batidas de nosso tambor-coração se transformassem em louvor ao nosso irmão e a nós mesmos.

Mariza HelenaRibeiro Facci Ruiz
Practitioner pela Dr. Edward Bach Foundation

Fonte: http://www.jperegrino.com.br/Florais/mulher_esqueleto_e_a_solidao.htm

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

Pega-pega ou João-ajuda?

Cheguei ao prédio onde moro ontem e lá embaixo tinha um punhado de crianças gritando e correndo. Uma delas me tocou, como que brincando, e disse " te peguei". Eu dei uma carreirinha e imitei o menino, pegando em seu braço e dizendo que ele era o "pega" outra vez. Ele se virou para mim e despejou solícito "Não é pega-pega, é João ajuda". Eu nunca vou esquecer a maneira como ele falou isso. Me senti de imediato uma idiota. Eu queria descontar o que ele tinha começado, numa versão bem "não vou deixar barato o que você fez comigo", bem espírito de pega-pega ... e era João-ajuda. Ajuda.

Depois fiquei pensando se essa brincadeira era melhor, por estimular o espírito de solidariedade ou
se era mais perversa que pega-pega, porque no final das contas estarão todos os brincantes reunidos no sentido de pegar aquele um que sobrou...

O mais esperto. Agora, se vira.

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Intuição

Não preciso me enxugar ao sair do banho se estiver com calor. E não há nada demais em sentar de frente ao ventilador, por mais que me digam o contrário. Sei o que me agrada. Sei que me desagrada a percepção de coisas nascentes, ainda tênues, ainda tão sutis. Sexto sentido feminino? Não me importo. Pra você pode ser mérito. Mas eu, eu não gosto de saber ver tanto e ser condenada a sentir antes do tempo. Bom ou ruim, que seja a seu tempo. Ou continuará a me acompanhar aquela incômoda sensação de descompasso com o mundo. Mundo devagar! De vagar depois de mim.

quarta-feira, janeiro 24, 2007

Ter ou não ter namorado, eis a questão

Quem não tem namorado é alguém que tirou férias remuneradas de si mesmo. Namorado é a mais difícil das conquistas. Difícil porque namorado de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia. Paquera, gabira, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão é fácil. Mas namorado mesmo é muito difícil.
Namorado não precisa ser o mais bonito, mas ser aquele a quem se quer proteger e quando se chega ao lado dele a gente treme, sua frio, e quase desmaia pedindo proteção. A proteção dele não precisa ser parruda ou bandoleira: basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição.
Quem não tem namorado não é quem não tem amor: é quem não sabe o gosto de namorar. Se você tem três pretendentes, dois paqueras, um envolvimento, dois amantes e um esposo; mesmo assim pode não ter nenhum namorado. Não tem namorado quem não sabe o gosto da chuva, cinema, sessão das duas, medo do pai, sanduíche da padaria ou drible no trabalho.
Não tem namorado quem transa sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar lagartixa e quem ama sem alegria.
Não tem namorado quem faz pactos de amor apenas com a infelicidade. Namorar é fazer pactos com a felicidade, ainda que rápida, escondida, fugidia ou impossível de curar.
Não tem namorado quem não sabe dar o valor de mãos dadas, de carinho escondido na hora que passa o filme, da flor catada no muro e entregue de repente, de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes ou Chico Buarque, lida bem devagar, de gargalhada quando fala junto ou descobre a meia rasgada, de ânsia enorme de viajar junto para a Escócia, ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo, tapete mágico ou foguete interplanetário.
Não tem namorado quem não gosta de dormir, fazer sesta abraçado, fazer compra junto. Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele; abobalhados de alegria pela lucidez do amor.
Não tem namorado quem não redescobre a criança e a do amado e vai com ela a parques, fliperamas, beira d'água, show do Milton Nascimento, bosques enluarados, ruas de sonhos ou musical da Metro.
Não tem namorado quem não tem música secreta com ele, quem não dedica livros, quem não recorta artigos, quem não se chateia com o fato de seu bem ser paquerado. Não tem namorado quem ama sem gostar; quem gosta sem curtir quem curte sem aprofundar. Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim de semana, na madrugada ou meio-dia do dia de sol em plena praia cheia de rivais.
Não tem namorado quem ama sem se dedicar, quem namora sem brincar, quem vive cheio de obrigações; quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele.
Não tem namorado que confunde solidão com ficar sozinho e em paz. Não tem namorado quem não fala sozinho, não ri de si mesmo e quem tem medo de ser afetivo.
Se você não tem namorado porque não descobriu que o amor é alegre e você vive pesando 200Kg de grilos e de medos. Ponha a saia mais leve, aquela de chita, e passeie de mãos dadas com o ar. Enfeite-se com margaridas e ternuras e escove a alma com leves fricções de esperança. De alma escovada e coração estouvado, saia do quintal de si mesma e descubra o próprio jardim.
Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo de sua janela. Ponha intenção de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de fada. Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uma névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases sutis e palavras de galanteio.
Se você não tem namorado é porque não enlouqueceu aquele pouquinho necessário para fazer a vida parar e, de repente, parecer que faz sentido.

Artur da Távola