domingo, maio 28, 2006

Conquista Lúdica

O chefe depositou nela muita confiança, ela notou logo de cara. Tá certo, ela tinha se formado em Publicidade, mas daí a ser plublicitária era outra coisa. Mesmo. Ele tinha apostado nela e estava certo de ter acertado. Surpreendia-se com a moça a cada novo instante e a descoberta de seu talento inerente deixava-o mais e mais empolgado. Logo começou a atribuir-lhe muitas missões. Responsabilidades. Ela não sabia se ficava feliz ou se ficava preocupada. Uma mistura só. Era um mérito ter sido convidada para o jogo, mas o jogo era real. Gostava do desafio que tinha nas mãos, mas se perguntava se daria conta; duvidando de sua própria capacidade. O chefe não duvidada, sabia conhecer as pessoas de pronto e desta moça já havia escanneado a alma. Isso faz mais de quinze dias. Duas semanas nas quais sua testa se franzia e seu respirar era contido. Hoje ela acordou consigo refletida no espelho. Puxou o ar com força até bem fundo, soltou devagar enquando em seu rosto se desenhava um sorriso. Hoje ela descobriu seu poder, soube que estava preparada para começar a partida. Só hoje a moça percebeu que era realmente o início de uma instigante aventura.

segunda-feira, maio 22, 2006

Pra quem polui as praias












O mar tá cheio
E cospe o tempo todo
Cheio de lixo
Vomita garrafas e sacos plásticos
Nos pés de quem
Inocentemente
Se aventurou a caminhar em sua beira
Ah, se o mar estivesse limpo
Como eu queria beber o mar

sexta-feira, maio 19, 2006

Raquel e a Agenda



Raquel faz agenda. Ela diz que faz agenda pra se organizar, ou ao menos pra tentar. Marca os compromissos, como se inscrever na pós-graduação do curso tal e buscar a mamãe na Faculdade; as datas especiais, como os aniversários dos amigos e, é claro, os acontecimentos marcantes, como aquele encontro romântico. Mas suspeito que ela faz agenda pra sentir-se no mundo, ser atuante ao passar dos dias nos quais ela escreve o que fez e o que ainda falta fazer. Raquel deixa de escrever apenas quando viaja, que é quando ela deixa a agenda em casa e trata só de viver. Mas ao voltar e ver as páginas em branco, ela sente uma saudade tão vazia que se pergunta se viveu de fato aqueles dias. Não fora um sonho os bons dias que viveu em outro lugar, sem tempo e sem agenda? Incrível como fazer agenda dar à Raquel uma sensação de pertinência mundana e de utilidade. Ora, se escreve que tem que pegar o irmão no colégio, é porque é algo seu e a isso atribui valor. E nisso se cria uma ilusão tão necessária de importância. Além da transcendência que se sugere, pois quando Raquel não estiver mais aqui, seus escritos hão de estar. E os mais íntimos vão pegar sua agenda, folheá-la e sentir a Raquelzinha naquelas palavras. E sentir que ela era tão boa! Outras vezes tão boba que sentirão vontade de abraçá-la e não poderão mais fazê-lo. Tão ocupada era nossa Raquel e se preocupando se me ofendi quando ela me disso aquilo? Como pode?! Eu mesmo nem lembrava mais. E vão manchar de lágrimas os escritos da moça, num misto de ternura e culpa. Pois a Raquel, que agora é lembrança, lembrou.

quinta-feira, maio 18, 2006

(IR)REALIDADE

Acabou-se
Dentro d´água
Adicione o pó
Beba logo
Acabou-se

Tudo é tão instantâneo
Que parece irreal
Sim
Porque a realidade precisa tempo pra ser arraigada ,vivida e entendida(?)

Temos de sentí-la como um tremor sob os pés
Aprendermos a nos equilibrar
Caminhar entre suas fendas
Tê-la e ser dela
Seja como vier
Pra depois, insatisfeitos, tentarmos mudá-la
Seja como for


Mas tá tudo tão
Tão efêmero
Bolha de sabão
Reluzente e ascendente
Que logo já não é mais

Tudo tá tão instantâneo
A situação vem e se dissipa
Num ritual quase virtual
Aquele beijo, àquela noite, você chegou a me dar?
Beijo em pó que minha saliva dissolveu

Me sinto a flutuar
Sem o alívio que isso dá
Como um ateu às beiras da morte
Fica o vazio

terça-feira, maio 16, 2006

Pra você ver

Quando eu era pequena, iam na sala de aula deixar o carnê de pagamento da mensalidade escolar. Um dia, certo coleguinha de classe, ao ver o funcionário da escola chegando com os carnês na mão, gritou:

_ Olha o carneiro!

Eu quase morri de rir, juntamente com o restante dos amiguinhos. Também ia às gargalhadas quando algum gaiatinho da sala respondia "presidente!" ao invés de "presente" na hora da chamada. Eram tolices que me faziam feliz.

Se hoje em dia eu presenciasse qualquer dessas situação, provavelmente ia olhar pra quem gritou a besteira com uma cara repressora de ponto de interrogação. Talvez até balançasse a cabeça negativamente, se encontrasse olhares cúmplices no ambiente. E o coitado ia ficar morrendo de vergonha pra aprender que isso não é coisa que se faça.

Pra você ver como a gente incorpora valores e partir deles julga as pessoas.
Pra você ver como a gente muda com o tempo, nem sempre pra melhor. Pra você ver como são as coisas. Pra você ver.

domingo, maio 14, 2006

.Mãe. .Mães. .Gosto de Filha.

















Não sem um ponta de melancolia
Hoje te sinto
Mãe
Mas não sinto em falta
Sinto-te forte
Presente em todas as mães do Universo
Na beleza das energias harmônicas
Dos pensamentos bons
Na força da mãe Natureza
Porque sua alma se expandiu
E a minha segue-te e se expande além
Sou infinitamente filha
E sinto gosto de filha

sexta-feira, maio 12, 2006

O que se vai


Caminhava e caminhava. O vento teimava em levar seus cabelos d´ouro para o lado oposto. A areia penetrava-lhe entre os dedos dos pés que de vez em quando eram banhados pelo mar. Seus pés estavam salgados.Sim. Mas ele nem estava lá para sentir. Como era bom aquele tempo em que ele, meio brincando, ajoelhava-se e beijava cada um de seus dedos. Depois levantava-se, arrodeava-lhe o corpo de maneira a ficar de frente para as costas dela, afastava-lhe o cabelo da nuca e desabotoava seu colar. Só então completava a volta em torno do corpo da bela moça e quando estavam frente a frente punha o colar sobre seus loiros cabelos, como que a coroá-la. Como era bom nestes momentos ter como trilha sonora o silêncio mútuo entrecortado por uma ou outra risada de prazer e estranheza. Mas agora ela caminhava na praia. E ele não estava lá. Era uma independência que ela não queria e tinha enquanto pensava na efemeridade de qualquer coisa. Daquele graveto que agora via e que um dia fora árvore de vida. Pegou-o pela mão, textura de toco molhado não era das suas preferidas, mas ainda assim agachou-se para rabiscar na areia. Um nome. Não o dela. Não o de um par romântico que ela ainda gostaria que existisse. O dele, apenas. Porém, a doce ilusão de presença trazida pelo nome escrito a seus pés na areia pouco durou. Uma onda que ninguém chamou veio e consigo o levou. Ela sorriu melancólica, como se tivesse captado alguma verdade escondida da existência. Caminhava e caminhava.

sábado, maio 06, 2006

Zé Boquinha

Pense num cara bom de boca. Daqueles que adoram fazer uma boquinha aonde quer que vá e já chega na casa dos amigos ( ou só dos conhecidos mesmo) abrindo a geladeira, perguntando se não tem merenda, reclamando que tá com fome...Essas coisas. Ainda era magro de ruim, quase de propósito, para despertar a inveja dos gorduchinhos que já foram vítimas sua. Pois este bendito sujeito estava num dia de sorte. Mais tarde ia ser comemorado o aniversário de um ano da filhinha da prima do cunhado dele. Ele ouviu a irmã marcar combinar com o namorado pelo telefone e foi logo se escalando. Fez tanta zoada que a moça permitiu que ele fosse. Ora, se que ela não o tivesse permitido, ele iria seguí-la mesmo! Pois agora está lá o nosso amigo diante daquele monte de salgadinhos, enquanto as crianças correm pelo Buffet. É, era festa de gente chique. Mas isto não o intimidou, ele não se fez de rogado e foi colocando tudo que era comestível pra dentro. Comeu até não agüentar mais. Até fazer cara de enjôo e pôr a mão no estômago, inclinando-se um pouco e fazendo um gemido. Sua irmão nem viu, tava era longe dele pois não queria passar vergonha. Quem o acudiu foi uma senhora muito arrumada, talvez bulímica, que perguntou com um sorriso no rosto se ele estava bem. Ele fez que não com a cabeça.

_ Meu filho, se não está se sentindo bem, não se acanhe : vá ao banheiro e ponha o dedo na goela.

Ao que ele instantaneamente respondeu:

_ Minha senhora, se aqui coubesse meu dedo eu comia era mais uma coxinha.

Pois é.

sexta-feira, maio 05, 2006

Comunicação : quem faz é quem ouve

Banabuiú _ O Vale das Borboletas

O nome Banabuiú é de origem tupi e significa brejo ou pântano das borboletas. Entender o seu real significado não é tão simples. Há tantos mistérios escondidos em Banabuiú quanto as metáforas dos poetas violeiros
Quem primeiro habitou essas terras foram os índios tupis. Há muito tempo, antes dos brancos invadirem, muito mais de 500 anos, num tempo perdido no tempo. Haviam milhares de tribos de índios margeando o rio Banabuiú. O lugar era propício a vida, com água limpa, com fartura de pesca e caça.
O nascimento de um índio era rodeado de rituais de preparação. As mulheres que esperavam o rebento eram pintadas com as marcas da fertilidade, enfeitadas com as mais lindas penas e pedras. O dia do nascimento era o início de uma grande festa que durava uma semana. O pai oferecia a toda tribo suas caças e pescas para um banquete ao redor da grande fogueira.
O ritual do nascimento ainda não estava completo até que acontecesse o primeiro eclipse. Somente na noite da grande escuridão é que as crianças eram iniciadas e se tornariam seres especiais. As mães preparavam um cesto feito de cipó e colocavam confortavelmente suas crias dentro. Os pais pintados para o ritual seguiam com os cestos para a margem do rio. Dançavam ao redor dos cestos com tochas entregando os pequenos índios à proteção da deusa Amanaiara. Seguiam para a alma do sertão.
Era então uma questão de tempo. Quando a lua escondia-se na sombra da Terra e se ocultava a natureza se transformava. Os pássaros inquietos faziam burburinho nas árvores. Os bichos se alteravam. E exatamente nesse momento surgia da escuridão uma borboleta. Grande como poucos pássaros, reluzente que parecia ter luz própria. Cortava o céu com um balé incrível deixando o rastro de sua luz no breu.
Ela era a guardiã do vale. Assim, a Borboleta mergulhava nas águas do rio e abraçava a criança na cesta tornando-o também guardião do rio. Essa história está desenhada nas pedras que os índios deixaram pintadas. Muita gente até já viu a Borboleta, as vezes ela é confundida com disco voador. Isso por causa do seu tamanho fora do comum. Agora que você sabe o que significa Banabuiú, saiba que ainda estamos naquela tribo e você é guardião desse lugar. Proteja-o.

Autor Desconhecido , Fotografia de Thiago Braga