sexta-feira, maio 12, 2006

O que se vai


Caminhava e caminhava. O vento teimava em levar seus cabelos d´ouro para o lado oposto. A areia penetrava-lhe entre os dedos dos pés que de vez em quando eram banhados pelo mar. Seus pés estavam salgados.Sim. Mas ele nem estava lá para sentir. Como era bom aquele tempo em que ele, meio brincando, ajoelhava-se e beijava cada um de seus dedos. Depois levantava-se, arrodeava-lhe o corpo de maneira a ficar de frente para as costas dela, afastava-lhe o cabelo da nuca e desabotoava seu colar. Só então completava a volta em torno do corpo da bela moça e quando estavam frente a frente punha o colar sobre seus loiros cabelos, como que a coroá-la. Como era bom nestes momentos ter como trilha sonora o silêncio mútuo entrecortado por uma ou outra risada de prazer e estranheza. Mas agora ela caminhava na praia. E ele não estava lá. Era uma independência que ela não queria e tinha enquanto pensava na efemeridade de qualquer coisa. Daquele graveto que agora via e que um dia fora árvore de vida. Pegou-o pela mão, textura de toco molhado não era das suas preferidas, mas ainda assim agachou-se para rabiscar na areia. Um nome. Não o dela. Não o de um par romântico que ela ainda gostaria que existisse. O dele, apenas. Porém, a doce ilusão de presença trazida pelo nome escrito a seus pés na areia pouco durou. Uma onda que ninguém chamou veio e consigo o levou. Ela sorriu melancólica, como se tivesse captado alguma verdade escondida da existência. Caminhava e caminhava.

2 comentários:

Anônimo disse...

nostalgia. esta é a palavra.
o mundo tá estraaaanho....
beijo, prima!

Anônimo disse...

Aprendemos muito com a natureza: o graveto sem vida escreve um nome que vive em seu peito, mas a onda vem e mostra que isso pode ser apagado.
Raul Seixas aprendeu o que ele diz ser o segredo da vida, vendo as pedras que choram e sonham sozinhas no mesmo lugar.
Quem presta atenção percebe que a natureza muitas vezes nos dá respostas. Mas só os loucos conversam com a natureza. "Queixo-me às rosas, mas que bobagem, as rosas não falam, simplesmente as rosas exalam o perfume que roubam de ti...". Tô louquinho! rs.
Um abraço!