quinta-feira, abril 12, 2007

Arrumando as coisas

Ontem, antes de dormir, sentei na cama com minhas lembranças. Minhas lembranças cheias de poeira, resistindo ao tempo. Minhas lembranças que em arrumação, separei do lado das que eu não queria jogar fora. Ontem me sentei para ser só delas, e sabia que iria chorar...

Reli bilhetes de paqueras que me fizeram rir e cartas de amores passados eternos que me encheram os olhos d´água. Mexeram mais comigo do que quando as recebi, fazem pensar na efemeridade das mais belas coisas. Por exemplo, o amor. Será o amor uma rosa, que é belo enquanto dura e cheira mais forte quando murcha? “As flores tem cheiro de morte e a dor vai fechar esses cortes”.

Encontrei uma receita de óculos de há menos de um ano atrás, e já faz tempo que acho que tenho que aumentar tanto este grau. Estou ficando cega, sim, estou ficando ceguinha. E não é bom ver embaçado o rosto de quem acena pra você na rua.

Uma redação feita em conjunto, em exercício criativo, por amigas da faculdade que seguiram seu rumo; e no parágrafo de cada uma sobre uma história boba está implícito explicitamente seu modo de ser...

Ô Nostalgia! E o que vejo agora são os “santinhos; do vizinho que me paquerou, o da mãe da minha amiga Giovana...como eu sinto como ela. Sinto?Ah, mas há sim uma irmandade nesta orfandade...

Uma carta do meu segundo irmão, não assinada, pra nossa mãe depois de morta. Sim, uma surpresa, uma surpresa! Ele, sempre tão calado, tão alheio...ele sentiu, ele é bom. Ora, ora... “um dia verei você de novo mãe, aí nesse dia vou lhe abraçar, beijar, brincar até a eternidade. Te amo!” . Eu também mãe, eu também.

Eu sou um grito de socorro...

Não, minha mente não pode parar,

Se se aquieta eu me surdo

Porque eu sou um grito de socorro

Eu fui uma adolescente de 15 anos num convite de aniversário, de boné azul pra trás, jeans e tênis. Me achava tão bonita, tão rebelde! O meu nariz era do mesmo tamanho...o que se fez de mim? Uma dedicat´ria tão maravilhosamente linda eu leio que me fizeram, e na minha festa eu fiquei encabulada. Nove anos atrás eu queria fugir, por pensar estar “pagando mico”. Porque só é depois que estou vendo a beleza de tudo...


Pare de me amar só quando estou dormindo e me olhe de uma vez nos olhos à luz do mundo. O som da TV é alto e me incomoda.


E as fotografias, as fotografias, as fotografias...Eu preguei mais lembranças na porta do guarda-roupa.

4 comentários:

Anônimo disse...

ai, prima, de tão lindo, dói!
já te disse, né? "saudade" é meu nome do meio. e eu tenho muitas e em dízima periódica.
tou com saudade de tu, também.

eu queria muito saber porque não consigo lembrar certas coisas sem chorar. e nem conversar certas coisas com certas pessoas sem chorar.

o engraçado é que eu me sinto tão adulta quando lembro de algumas coisas atrás... :)

Tyr Quentalë disse...

É interessante quando nos pegamos perdidos em tantas lembranças. Fotos, cartas, laços de bala de papel. Promessas escritas, promessas vividas, dedicatórias, fotos revistas antigas. Tudo que um dia juramos guardar e que um dia surge diante de nossos olhos, às vezes amarelados, às vezes empoeirados. Tantos objetos que podemos nos espantar. Mas Gina, quantos sonhos podem se transformar em contos? Quantas vezes transpomos o tempo e vivenciamos aquele determinado momento. A essência sempre morou ali e sempre vai viver. Eu voltei ao tempo e mantive entre minhas mãos`a essência de um dia vivido, de uma lembrança perdida, assim como você voltou ao tempo em seu texto, nos fazendo imaginá-la entre tantas lembranças, sorrisos e lágrimas olhando para a porta do seu armário e pregando nele mais lembranças dos tempos passados.
Abraços de uma contadora de Histórias, para outra contadora de Histórias.

Bruna, Bruninha disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Bruna, Bruninha disse...

Senti saudades de ti só de ler esse texto... Está certo, não te conheço... mas final, não é pra isso que servem as palavras? Pra nos proporcionar coisas que de outra forma não teríamos... Então, durante a breve leitura deste texto (que nem as palavras vão me dar o dom de te fazer entender como me tocou) fui tua amiga íntima, quase uma amiga de infância, daquelas a quem, mesmo de longe, conseguimos fazer confidências...
Eis que então, a leitura acabou, e nossa amizade também... Mas minha admiração por ti e os sentimentos que esse texto despertou em mim, permanecem...
...e as palavras me permitiram dividí-los contigo, e registrá-los, para a eternidade...