terça-feira, setembro 12, 2006

Pesado elo

Eu me lembro mais do que senti do que do sonho em si. Eu senti muito medo. Acordei gritando pelo meu pai. No sonho eu tentava alerta-lo para não deixar Deus ir embora. Deus tinha vindo nos visitar, saíra de um elevador que abria as portas dentro da nossa casa. Entrou com uma humildade imponente e eu estava deslumbrada com sua presença, quase não falei. Ele trouxe consigo uma linda garotinha de cabelos longos que encheu o ambiente de alegria, e que agora interpreto como sendo uma espécie de anjo. Sei que gostei da menininha instantaneamente e me distrai com seu sorriso enquanto Deus contornava o corpo de minha mãe, como fazemos quando passamos um lápis em torno da mão. Depois ele cruzava a porta e se ia com ela, deixando só seu desenho na parede; e eu lá brincando com a menininha angelical. Até que escuto o estrondo forte e metálico da porta do elevador a se fechar. A criança se desintegra, e vejo meu pai chorando, e vejo o desenho, e compreendo o que havia ocorrido. Deus tinha ido embora. Eu tinha muitas perguntas a Lhe fazer, mas Ele tinha ido embora. Além de ter trazido um anjo para me fazer calar de encantamento e não Lhe questionar como eu queria, Ele havia também levado minha mãe para si. Ele me engara inescrupulosamente. Eu senti raiva. Raiva por ter sido tola e caído em Seu golpe baixo, raiva por Ele ter levado minha mãe, raiva por Ele ter me evitado sentir a dor da perda no instante que ela acontecera, raiva por Ele ter usado um anjo pra burlar minha atenção. Raiva. Raiva. Raiva. Deus não era confiável. Mas era poderoso. Foi então que subitamente me veio o medo. Eu senti de todas as formas que Ele ia levar os braços do meu namorado, dos meus amigos, dos meus irmãos, do meu pai. Ele sabia que eu O estava julgando naquele momento e ia tirar dos meus amores a capacidade de me abraçar. Era meu castigo. Eles estavam vivos, mas seus braços ficariam para sempre relaxados e inertes ao longo de seus corpos. Eles seriam punidos por minha causa! Ele estava os desenhando a todos e eu ia ficar sozinha. Ninguém mais via aquilo?Ele precisava voltar. Então eu gritei, sufocada, gritei até conseguir acordar; e respirar. Meus amores ainda me tinham em seus braços.

Nenhum comentário: