sábado, agosto 26, 2006

Coisinhas proibidas

Quando pequena eu brincava de cada coisa. Lembrei hoje que fui uma menina de dez anos que brincava de novela. A novela era "Simplesmente Maria" e a encenação dava-se em minha cada, a tarde, quando meus pais saiam para trabalhar. Reuníamo-nos eu, meu irmão imediatamente mais novo e mais duas amiguinhas e dois amiguinhos vizinhos. Aproveitávamos a casa vazia para dar espaço à nossa brincadeira proibida. Sim, era muito proibida. Porque me lembro que grande parte do capítulo da nossa novela acontecia nos quartos, cada pequeno casal em seu grande e deslumbrante quarto. Eu pegava meu par romântico e deitava na cama dos meus pais. Não, não malde. Nós realmente só deitávamos, um ao lado do outro, tomando um cuidado secreto e minucioso para que nossos corpinhos nem chegassem a se tocar. Mas eu sentia uma emoção enorme. Estar ali deitada, ainda que imóvel, ao lado de outra pessoa, de outro sexo era uma de uma intimidade pecaminosa. E eu, tão nova, jamais havia experimentado nada igual. Minha respiração se fazia ofegante e meu coraçãozinho faltava me sair pela boca. O menino do meu lado? Não, nem sei o que pensava. Era proibido conversar durante a cena e não nos era permitido tocar no assunto depois que a brincadeira acabava. Lembro que vivia com medo de ter ficado grávida, sem ao menos um contato, sem ao menos um inocente beijo. E a Gina que eu era se enchia de culpa e aos domingos, quando ia à missa, era toda pedidos de perdão. Mas na segunda-feira a tarde estava lá, a brincar de novo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Essa Gina... Pecadora desde criança! Huiehiahea. =x
Quem disser que nunca brincou de novela, de médico ou coisa parecida quando criança, aí sim é pecador. Isso nos mostra como o instinto humano é violento, que aflora ainda na infância, quando não temos (realmente) nenhuma malícia, apenas curiosidade de conhecer o inusitado. Ô saudades daqueles tempos que sentir desejo era apenas uma necessidade de ''conhecimento''. =x Hehehe. ;*